domingo, novembro 30, 2008

Ontem conversávamos. Ontem era aquele doente que a Ana e eu achávamos parecido, em termos de fisionomia, com o Jorge Palma. Fazia-nos lembrar... Ontem ia à copa, ás escondidas, comer um iogurte, porque dizia que estava com fome e não queria incomodar, enquanto estávamos na passagem de turno, e depois vinha a entrar no serviço como se nada fosse, com o ar mais descontraído do mundo ainda com iogurte no queixo.
Ontem era aquele doente que tratávamos carinhosamente por Tintim ou Tintimzinho, com quem tanto brincávamos. Ontem passeava no corredor e sorria-nos.
Ontem estava lá. Como hoje. Não imaginava que acontecesse assim. Fizemos de tudo. Trinta longos minutos a efectuar reanimação. Enquanto estava a fazer Ambu e massagem cardíaca, de joelhos em cima da sua cama, a direccionar o peso do meu corpo todo nas minhas mãos entrelaçadas, sobre o seu peito, já quase desesperadamente, pensava em coisas suas e só suas. Imagino que a desfibrilhação tenha sido muito dolorosa. Mas apesar de tudo, quero acreditar no que o Tiago verbalizou no momento da sua morte, ao olhá-lo, momento de despedida nossa de si também: “- Parece que está feliz”. Oxalá que sim!

sábado, novembro 29, 2008

]Por entre a chuva[



Encontros. Saudades, muitas. Amizades. Boa disposição. Risos. Apertadinhos os três debaixo de um guarda chuva transparente com uma flor. Pequeninas molhas.


Colegas. Aulas. Fotografias. Intervalos. Pausa para coffee break.


Jantar delicioso em casa da Emanuela. Coisas boas daquelas que se guardam fundo e dentro. Crepes com doce de amora e gelado.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Noite sim!


Consegui ir ver esta peça de teatro: Guernica, no Santiago Alquimista.

Gosto particularmente deste espaço.







A terminar a noite o concerto do Grupo Roda de Choro de Lisboa no Tanque do Chapitô.

«No passado 26 de Abril de 2008 cumpriram-se 71 anos do cruel bombardeamento da cidade basca de Guernica. Foi o primeiro bombardeamento perpetrado pela aviação militar nazi no século XX, sobre uma cidade aberta.

Com a impunidade da velocidade e da distancia , os aviadores intervencionistas alemães estrearam os seus «Stuka» e «Heinkel» da aviação nazi "Luftwaffe" destruindo a pequena cidade de Guernica, habitada por civis. Foi tanta a crueldade do ataque, que já no final da operação «Condor», os pilotos - por causa do fumo - não tinham visibilidade mas, mesmo assim, deixaram cair o resto da sua carga («explosiva e incendiaria») sem ver onde caiam as bombas, apenas pelo sádico prazer de disparar.
Em 1938, um ano antes de terminar a Guerra Civil espanhola, a política de não intervenção dos aliados europeus deram «luz verde » à política de Hitler, reconhecendo o domínio de Franco sobre Espanha, sem imaginar que anos mais tarde esses mesmos aviões alemães destruiriam Londres e outras cidades europeias.

A cidade de Guernica, sem defesas antiaéreas apropriadas para se defender, ficou destruída, mas permaneceu do pé a célebre árvore que simboliza a tradição heróica e a identidade e a esperança do Pais Basco (e não só!).

Esse brutal acontecimento foi imortalizado por Picasso num quadro que muitos críticos consideram a obra pictórica mais importante do Século XX.
Por esse mesmo prestígio artístico da obra, nesse branqueamento da memória que diferentes interesses manipulam para lavar o seu passado criminal, hoje, muitas pessoas, sobretudo jovens, pensam que «Guernica» é apenas «aquele quadro famoso pintado por Pablo Picasso».

De Guernica a Hiroshima
O ataque brutal sobre «Guernica» foi um ensaio do que seriam os futuros e sucessivos bombardeamentos sobre cidades abertas na segunda guerra mundial: Londres, Varsóvia, Leninegrado, e outras cidades europeias aliadas, e já quase no final : Berlim e Dresden, como assim também as tristemente célebres Hiroshima e Nagasaki , conheceram na "carne" própria o horror do bombardeamentos e o inicio da era nuclear. Por isso é que muitas vezes ouvimos dizer «de Guernica a Nagassaki».
Umas vezes fria, outras quente, chegaram os tempos de Coreia, e logo Vietname... e a lista atravessa a segunda metade do século XX e continua no século XXI: os Balcãs, Chechénia, Afeganistão, Iraque, Irão, Somália, Etiópia, Sudão, Gaza, Angola, Líbano, Israel, etc.

A conhecida por «terceira guerra mundial» ( ou guerras de baixa intensidade) continuaram até os nossos dias. Brutais acontecimentos que marcaram com a sua violência quase todo o planeta durante o século XX e já vão deixando a sua mancha de sangue na primeira década do Século XXI. Essas «demolições militares » de cidades abertas transformaram-se em lugar comum dos noticiários.

As imagens de refugiados desprotegidos andando pelos campos com a sua carga de restos palpitantes sobre as costas, com os seus braços em chagas e os seus peitos famélicos, muitas vezes metralhados nas suas deslocações, são imagens terriveis às que se uniram agora as dos criminais atentados terroristas. Estas imagens, a força da sua repetição, se fizeram lugar comum nos meios de difusão até o ponto de anestesiar a nossa capacidade de repulsa. Muitos políticos e estadistas, utilizaram a frase « a morte de um homem é uma tragédia, a morte de um milhão de homens é apenas uma estatística).

Já Chaplin (em "Moinsieur Verdoux") e depois dele muitos políticos e estadistas, utilizaram a frase "a morte de um homem é uma tragédia, a morte de um milhão é apenas uma estatística".

Fizemos «Guernica», de Arrabal para contar a história dos humildes e esquecidos, a historia de dois velhos atrapados na armadilha de uma guerra que os ultrapassa e resgatar a memória das suas vidas do anonimato das estatísticas e da anestesia da repetição dos noticiários. Quisemos contar esta historia para lembrar-nos que, como dizia George Bûchner em Leoncio e Lena: «até o mais pequeno dos homens é tão grande que a vida resulta demasiado curta para pode-lo amar.» Para lembrar-nos que cada um desses pequenos números nas estatísticas é um coração palpitante que amanhã pôde ser o nosso ou o dos nossos filhos."

Fernando Arrabal nasceu em Melilla em Agosto de 1932. Vive exilado em França desde 1955.
Aprendeu a ler e a escrever em Ciudad Rodrigo (Salamanca), sendo-lhe atribuído o prémio nacional de sobredotado aos dez anos. Realizou os seus estudos universitários em Madrid e apesar de ser um dos escritores mais controvertidos de seu tempo, tem recebido o aplauso internacional pela sua obra narrativa.

"O conhecimento que carrega Arrabal está preso a uma luz moral que está na própria matéria de sua arte" (Vicente Aleixandre)

"Fernando Arrabal possui o incálculável tesouro de ter voz própria" (Camilo José Cela)

"O universo de Arrabal é um mundo fantástico e louco que transforma este mundo em relato de uma forma que nada se parece... assim consta uma vez mais: Arrabal não se assemelha a nada e... alcança o limite do concebível. Só se assemelha a si mesmo..." (Milan kundera)

ELENCO:
ACTORES:
Fanchu: José Gil
Lyra: Paula Freitas
Escritor e Militar: Luis Gamito
Jornalista: Alexandra Marques
Homem da Resistência: Pedro Freitas
………………………….
Tradução: José Gil
Música e Banda Sonora: Carlos Gutkin Prast
Produção: João Figuereido Dias
Assistente de Encenação: Maria J. Albuquerque
………………………….
Realização técnica :Claudio Morais, Marcio
……………………………………
Cenografia, Adaptação,Dramaturgia e Encenação: Adolfo Gutkin

A grande curiosidade desta peça é o facto de ser interpretada por profissionais de áreas muito diferentes do teatro.
O ex-director-geral da REFER, uma jornalista do Jornal de Notícias, um empregado da área financeira de uma multinacional e o psiquiatra Luís Gamito são alguns dos actores.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Tardes de sol





Sinto muito

«As palavras permanecem, penso em nós, no como andaremos por perto agora e depois».
João Ricardo Lopes


Tanta coisa se passou, que falar não é fácil.
Os meus pensamentos queriam outra coisa.
Fiquei no lado de cá, acenando de vez em quando, para que voltasses. Da mesma maneira que esperaria que um peão acabasse de rodar para ver para que lado tombava.
Há o lado oposto: a outra margem.
Bocadinhos de ti, imperfeitos, encaixados uns nos outros num retrato de traços largos. Guardo em mim as falhas e as faltas. É verdade. Sem remorsos. O sentimento que se perdeu nunca mais se pode encontrar. Em parte nenhuma.

A peça "Imaculados" que me prendeu do primeiro ao último segundo:

(Diante do horizonte do mar)
Não é agradável morrer quando não se deixa nada para trás na vida.

Quando fica algo para trás na vida…

O céu. O mar feito de água. O azul infinito. O mar de areia move-se de maneira lenta e constante. Conseguimos andar ao ritmo dele.

Talvez ela estivesse rasgada por dentro.
Porque é que se procura a morte por uma fraqueza?

O que é que sabe da morte?
Da morte eu não sei muita coisa. Há muito tempo que sou um túmulo vazio. Não há ninguém que transforme o meu nome num nome carinhoso e isto é tudo o que eu sei da morte.

Os livros. O recolhimento. As palavras encarceradas. Amo-te sem te dizer nada. Torna-se simplesmente parte de mim. Um pequeno silêncio infinito. Limito-me a fechar os olhos.
Aguenta-te.
Eu aguento-me.
Há que aguentar.
O resto é só uma questão de tempo. Eu também tinha os meus sonhos. Estive anos a sonhar os meus sonhos.
Agora sonho entre um cigarro e outro.

A vida arrefece muito devagar e o que fica é um núcleo incandescente.
Tu és capaz de olhar através de mim, como se atrás de mim estivesse outra pessoa.

Estes assuntos do dia-a-dia passam, dissolvem-se na historia das grandes transformações que ainda estão para vir.
Já não acredito no nós, no colectivo.
Os erros, os acasos, as coisas imponderáveis impressionam-me. A total ausência de perguntas. O espírito da descoberta.
Tudo manchas brancas no mapa do teu mundo.
I’m watching you…

Medo das noites em branco na consciência.
Eu sou um bocadinho como os outros. Mas também sou um bocadinho diferente.
Saltar ou não.
Salta!

Não para o tempo todo.
A eternidade não é um tempo.
Se não é no momento, não existe. Não é tudo no agora.
Memória. Tudo o que dói do antigamente tem de acabar.
Sempre. Agora.
Não sabes como é…
Se há memória podes-te lembrar da tua vida do antigamente.
O que vem a seguir não sabemos ao certo. O risco é mais a favor.

O choque vem mais tarde e fica para sempre.

É uma questão de experiência de vida.
Quem eu sou? E como eu sou?
Eu digo-vos aquilo em que acredito.
Quando nos acontece uma coisa maravilhosa, somos nós.
O que resta de nós… são as nossas acções boas ou más, aquilo que dissemos, que pensámos.

Estabeleçam um contacto um com o outro: está mais ou menos a dois braços de distância!

Já não conheço a mão dele na minha cara.

Faltava-me a compaixão. A compaixão não vinha…

Onde está a diferença? … mil visões particulares de tudo o que existe.
O nexo causal dos factos só surge depois. Se lançássemos os dados seria a mesma coisa.

Tu não tens as coisas na mão: o mundo não é fiável!
Não é importante.
Logo se vê.
Não te reconheço.
O que é que aconteceu? Espero por ti.
Eu não podia ir ter contigo. Fiquei baralhado. É tudo tão confuso.
Senti isso na pele. Estar uma noite à espera e perder a esperança faz envelhecer.
Vamos fingir que nos entendemos.

O amor não conhece as pessoas.
Pela primeira vez na minha vida quero habituar-me a uma coisa.
Porque eles pensam que vives num mundo perfeito.
O que eu mais desejo no mundo.
Eu vou ver por ti. Eu dou-te tudo aquilo que sou. Então somos iguais. E mesmo assim diferentes e é a essa diferença que podemos chamar amor.

Acreditas em Deus?
Eu não o conhecia.
À primeira vista não foi o meu género.
A vida tem sentido para ti? Então para quê tudo isso? Então para quê isso tudo?
Isto é o desafio da vida. A não fiabilidade no mundo.

Amor. Morte. Sentido. Eu já não sei dizer.

Deixe a dor que não conhece em paz. Viva a sua própria vida. O que é que isto quer dizer?
Podia ser tão simples a vida… A vida podia ser tão simples…

Tive medo.
Ás vezes digo para mim própria: Quem sabe que sentido aquilo teve?

De certeza que não é daqui. De onde é que vem?

Há sempre qualquer coisa a fazer.
Todos nós gostaríamos de ser imaculados. Olha à tua volta. E todos.

Eu queria que as imagens acabassem.
Quando o dia nasce lá fora tem que se olhar para cima e esticar o pescoço. Acredito nas pessoas.
Reconhecer.

Ninguém possui o acontecimento da nossa evolução futura. Não podemos saber em que sentido é que a determinamos. Estamos cegos em relação a nos próprios.
A dor do ar de quem perdeu o fulgor. A dor do torpor.
A dor é tudo isto.
Ando como se estivesse num barco. Qualquer coisa que podia ter uma cor não tem contornos.

Como é que nós nos realizamos?
Se cada um pudesse formular um desejo, o que é que queria?

A necessidade da arte nas palavras de Dea Loher

«Mas não há nennhuma legitimação para a arte para além da necessidade pessoal de fazer aquilo que achamos que temos de fazer. A partir de uma força demasiada, por vezes da sua falta. De um excesso de depressão e medo que não se podem expressar de outra maneira. De um estar à margem e apesar de tudo querer ainda de certo modo fazer parte. De um prazer na destruição e no criar de novo que por vezes é puro prazer de viver. De uma alegria em conseguir. De uma procura de momentos que querem ser perfeitos e se tornam eróticos na sua transitoriedade. De um desejo mal canalizado. De uma ânsia de transformação e do não saber como e em que sentido. Tudo isto na esperança talvez vã de haver algumas pessoas que reconheçam aquilo que se está ali a apresentar e a quem esse reconhecimento dói e dá alegria. Pela existência da arte pagam aqueles que a criam. Pela sua não-existência vamos pagar todos.»

Peça de Teatro "Imaculados" no Teatro Aberto


"A peça são várias histórias que representam o nosso quotidiano, se vão cruzando e demonstram a dificuldade de hoje as pessoas viverem nas condições que lhes são impostas pela vida numa sociedade sem padrões de conduta e sem crenças", disse João Lourenço, director artístico do Teatro Aberto.

"Imaculados", peça escrita e estreada em 2003, é consierada por João Lourenço "a melhor peça da maior autora alemã da actualidade. Decidimos fazer esta peça porque tem que ver connosco e é de uma poesia espantosa".Caracterizando "Imaculados", o encenador apresenta brevemente as personagens: dois emigrantes clandestinos que se culpam de não ter impedido que uma mulher se afogasse; uma mulher que gostaria de receber mais atenção do marido e cuja mãe, doente, se instala em sua casa; uma jovem cega que dança num bar para homens que não vê e que a desejam; uma mulher só que está disposta a tudo para existir aos olhos dos outros; e uma filósofa que não aceita o envelhecimento, deixou de acreditar nas ciências do espírito e fala sozinha.


Nascida em 1964 em Traunstein, na Baviera, Dea Loher estudou Filosofia e Literatura em Munique e reside actualmente em Berlim.
Da sua obra teatral, várias vezes premiada pelos temas profundos e pela densidade poética e muito representada na Alemanha, mas também no Brasil, França, Noruega, Reino Unido, Áustria e Suíça, destacam-se peças como "Olgas Raum", a primeira, "Tatuagem", "Leviathan", "Fremdes Haus", "Adam Geist", "Manhattan Medea" e "Unschuld", título original de "Imaculados".
João Lourenço desejava apresentar uma peça de Dea Loher desde que esta esteve em Lisboa, em Dezembro de 1999, no âmbito da iniciativa Palavras de Palco 1, organizada pelo Goethe-Institut em parceria com o Teatro Aberto, para ler um excerto da sua peça "Barba Azul ou Esperança das Mulheres" e discutir com os autores portugueses e o público as suas ideias sobre a peça.

A peça cruza "as histórias de várias personagens numa linguagem actual, contemporânea e quase cinematográfica. Numa sucessão de cenas curtas, como se estivéssemos a fazer zapping, vamos conhecendo as histórias que se vão entrelaçando umas nas outras encontrando pontos comuns. São destinos cruzados que as contingências da vida separaram, que criam uma dança de roda marcada pelo humor do desespero e a energia de viver".


FICHA ARTÍSTICA

Autora: Dea Loher

Encenador: João Lourenço

Dramaturgia: Vera San Payo de Lemos

Interpretação: Irene Cruz, Francisco Pestana, Carmen Santos, Ana Nave, Ana Brandão, Inês Rosado, Luís Barros, Pedro Ramos, Amílcar Azenha, Quimbé, Carlos Pisco, Cátia Ribeiro e Ana Rita Trindade


Considerada uma das vozes mais inventivas e poéticas da nova dramaturgia europeia, como comprovam os muitos prémios que têm distinguido a sua obra, Dea Loher escolhe para as suas peças histórias e figuras do quotidiano e confere-lhes uma dimensão filosófica e universal ao apresentá-las na procura de respostas para grandes questões como o sentido da vida, as possibilidades de transformação da sociedade, a realização dos sonhos individuais. Em Imaculados, cruza histórias e personagens para tematizar a relação com o outro, com o estrangeiro, a responsabilidade e a culpa, a solidão, o confronto com a morte, a pertinência das utopias, a busca de felicidade, e demonstrar que, num mundo aparentemente regido pelo acaso, os seres humanos, afinal, acabam por estar misteriosamente ligados.»
Vera San Payo de Lemos

Uma peça de teatro que transcendeu todas as expectativas que tinha, de uma profundidade que toca o infinito e a eternidade. Simplesmente magnífica... Uma peça de teatro da vida! E a acompanhá-la o melhor concerto de acordeão ao vivo a que alguma vez tinha assistido.

quarta-feira, novembro 26, 2008

Coisas que se descobrem: “tal e qual”…

Antigas emoções em novas sensações? Fizeram-me olhar muitas vezes. Coincidências ou inspirações? Porque tudo muda a cada instante. Pode parecer confuso. Mas parto daqui, deste ponto, porque hoje sei o que é parecido. Não me esquece a memória daquele olhar que prende e que jamais me deixa indiferente.
Pedaços de recortes iguais como um momento Kodak. Fecho os olhos. Penso em ti. É o teu rosto, é o teu sorriso, é a tua voz. São os teus gostos. É a tua forma de cumprimentares as pessoas. São os olhares que se cruzam. É a tua forma de te dirigires aos outros. São os teus interesses. É a persistência. São as brincadeiras. É a tua postura. São os teus lábios. É a tua forma de caminhar. São as piadas. É a tua leveza. São os objectivos traçados. É a tua maneira de falar. São as ambições. É o teu charme. São as tuas respostas. É a tua sensualidade. São os teus fios de cabelos. É a tua maturidade. São as tuas “análises”. É a tua personalidade. São as tiradas cómicas. É a tua timidez. São as conversas. É o teu estilo.
Enfim…

Etiquetas: Teorias Biológicas. Formigas. Aqui vai... especialmente para ti!

É um exemplo intuitivo de simbiose: é o relacionamento mutuamente benéfico que se desenvolveu entre as formigas-cortadeiras e uma espécie de basidiomicete, um cogumelo:

«No fim do trilho, as carregadoras descem apressadas pelo buraco do formigueiro, misturando-se com multidões de companheiras enquanto percorrem canais tortuosos que terminam perto do lençol freático, cinco metros abaixo ou mais. As formigas largam os pedaços das folhas no solo de uma câmara, para estes serem apanhados por trabalhadoras de um tamanho ligeiramente menor, que os cortam em fragmentos de cerca de um milímetro. Poucos minutos depois, formigas ainda menores, assumem o trabalho, amassando e moldando os fragmentos em bolas húmidas, que inserem cuidadosamente numa massa de material semelhante. Esta massa, que varia entre o tamanho de um punho fechado e de uma cabeça humana está crivada de canais e assemelha-se a uma esponja cinzenta. É a horta das formigas: na sua superfície cresce um fungo simbionte que, juntamente com a seiva das folhas, forma o único alimento das formigas. O fungo espalha-se como uma geada branca, enterrando as suas hifas na pasta de folhas para digerir a celulose abundante e as proteínas que ela contém em solução parcial.
O ciclo hortícola prossegue. Formigas trabalhadoras ainda menores do que as acima descritas arrancam tiras soltas do fungo de lugares de crescimento denso e plantam-nas nas superfícies recém-construídas. Finalmente, as trabalhadoras menores de todas - e mais abundantes - patrulham as plantações de fungos, sondando-os delicadamente com as suas antenas, lambendo as suas superfícies e arrancando os esporos e as hifas de espécies diferentes de fungos. Essas anãs da colónia conseguem atravessar os canais mais estreitos no interior das massas da horta. De tempos em tempos arrancam tufos de fungos e levam-nos para as suas companheiras maiores.
Nenhum outro animal desenvolveu a capacidade de produzir cogumelos a partir de vegetação fresca. Esse evento evolucionário aconteceu apenas uma vez, há milhões de anos, em algum lugar da América do Sul. Isso conferiu enorme vantagem ás formigas: agora elas podiam mandar trabalhadoras especializadas colher a vegetação, ao mesmo tempo que mantinham o grosso da população em segurança nos abrigos subterrâneos. Em resultado disso, todos os diferentes tipos de formigas-cortadeiras juntos, compreendendo catorze espécies do género Atta e vinte e três do Acromyrmex, dominam grande parte dos trópicos americanos. Elas consomem mais vegetação do que qualquer outro grupo de animais, inclusivamente as formas mais abundantes de lagartas, gafanhotos, pássaros e mamíferos.»

E. O. Wilson
(o maior expoente em sociobiologia faz esta descrição da sociedade das formigas-cortadeiras e do seu relacionamento com a agricultura de fungos).

terça-feira, novembro 25, 2008

Momentos de descontracção






Achados curiosos


Deparei-me com a fotografia do David Fonseca na cama num blog, por acaso. Gosto desta fotografia e dos pormenores que cabem nela.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Sobressaltos

Vejo algumas caras conhecidas quando atravesso o átrio branco e azul. Chegava para me ir embora.
De repente, apareces sozinho, não sei bem de onde, e estás ali no meio daquele espaço, que mais do que nunca me parece enorme. Pareces-me um bocado perdido, à procura de alguém, que não encontraste ainda, após já teres calcorreado alguns sítios e feitas várias tentativas.
Cumprimento-te de longe com um acenar da mão numa espécie de adeus. Não sei quem viu quem primeiro.
Ultimamente encontramo-nos muitas vezes casualmente.
Carrego no botão do elevador para descer, acende-se a luz vermelha e sei que a porta não se vai abrir imediatamente. Fico onde estou, à espera.
Avanças. Ficamos perto. Cumprimentamo-nos com o olá e os beijinhos “da praxe”, daquela maneira um tanto ao quanto estranha, pelos olhares circundantes.
Perguntas-me de onde venho. Respondo-te com uma dupla resposta, onde acrescento para onde vou.
Disseste muitas coisas, coisas que tocaram a vulnerabilidade e a fragilidade que trago, fizeste aquele ar de quem tem pena, de quem sabe o que é, de quem imagina outra coisa.
O elevador abre-se e fecha-se, vezes sem conta.
Esta conversa assume os contornos de outra conversa anterior que já tínhamos tido, mais superficial, em que eu vinha mais feliz, e tu a lembrar-me que as cores do mundo não eram todas alegres.
Faço-te reclamações, que aceitas. Tenho os meus argumentos, que demonstras compreender. Colocas-te no meu lugar e expressas entendimento. Sem saberes, deixas-me com as reticências que eu já tenho. E intensifica-las.
Finalmente, agarro o elevador para descer, enquanto tu usas as escadas para subir.
Tento não pensar mais no assunto porque não tenho soluções imediatas. Tenho sono.
Tento adormecer. A massagem ás costas que tinha desfeito tantos nós ajudou. A conversa e as dúvidas que me suscitaste, para além daquelas que eu já tenho é que não.
Finalmente durmo. Acordo depois.
Os dias estão constantemente a lembrar-Te. É uma evidência de quem está comigo a maior parte do tempo.
Ontem. Ainda mais.
Sinto-me em espera, com a vida a esperar-me.

Amigos

"AMIGOS
---
Os amigos que são leais
Dão a mão e dão guarida...
Mas poucos são esses tais
Que duram p´ra toda a vida...

I
Há amigos em todo o lado,
Quando o nome é trivial...
Como as letras de um jornal,
Quando estão do nosso lado...
Se o jornal é dispensado
As letras não prestam mais...
São a prazo os ideais
Na amizade mais banal...
O que deixa ficar mal
Os amigos que são leais...

II
Esses têm outro valor,
Que se chama seriedade...
Há uma outra amizade
E um (A) que é bem maior...
São amigos sem favor,
Ou sem coisa pretendida...
Com a mão sempre estendida,
Ajudando os tais mendigos...
E por serem mais amigos,
Dão a mão e dão guarida...

III
Há outro que é um perigo,
Com a capa muito sonsa...
Veste a pele que é da onça,
E se diz ser nosso amigo...
P´ra esses eu já nem ligo,
Os que tive foram demais...
São azares ocasionais
Deste tempo sem critério...
Que confunde o Homem sério,
Mas poucos são esses tais...

IV
Como os grandes aliados,
São cultura que se lavra...
E não usa essa palavra
P´ra favores aconchegados...
Amigos não são forçados,
Nem alma que foi vendida...
Como amparo numa descida
E sinceros conselheiros...
São amigos verdadeiros
Que duram p´ra toda a vida...
--- "

António Prates (Sesta Grande)


(E também é por isto que disse que faz sentido os espaços vazios na amizade, quando um amigo nos deixa um vazio imenso que magoa e desilude.
E também é por isto que há pessoas mais especiais, com quem gostamos verdadeiramente de trabalhar e que nos convidam para jantares fora de horas.
E também é por isto que te disse que gosto muito de ti e de te sentir perto, e que um abraço prolongado e apertado como o teu sabe... tão bem!
...)

sexta-feira, novembro 21, 2008

...

«A tristeza "é tão natural como a sede". Depois de nos assustar, ajuda a crescer, mesmo que como as crianças - amuemos quando estamos tristes, como se fizessemos uma cara feia perante um sentimento que nos desperta medo.»

"Expertise"

quarta-feira, novembro 19, 2008

Estoril Film Festival 08


Assisti ontem, na noite deste festival, ao filme Rebdelt, de David Mamet, que traz Rodrigo Santoro e Alice Braga no elenco.
O filme estabelece toda uma sintaxe visual e narrativa, em estilo próprio, fechado, sem rodeios, somente com tudo aquilo que é importante.
Neste filme a exposição da ambiguidade moral e ética na nossa existência, no dia-a-dia, naquilo que a vida nos vai fazendo e trazendo no "deixa a roda girar", em situações mais limite e circunstâncias extremas que são os problemas com os quais a vida nos depara.
The red line: a esperança parece apenas existir no indivíduo porque a sociedade assenta sob valores doentes.
Gostei muito deste filme. E fez-me mais uma vez lembrar isto:
"A percepção de um padrão suscita o sentimento que acompanha a compreensão.
A compreensão não é um projecto finito com uma conclusão imaginável, mas antes uma atitude no sentido de experiência imediata.
A consciência é a integração momento a momento da percepção individual do mundo.
A bondade - quase podíamos dizer a graça - com que o indivíduo realiza essa integração determina a resposta de adaptação específica desse indivíduo por relação com a existência".
TERENCE McKENNA

terça-feira, novembro 18, 2008

uma tarde

Houve um encontro marcado. Houve uma luz filtrada de pausa num fim de tarde. Houve um terraço chill out de onde se via a linha limite do horizonte que separa a superfície do fundo. Houve o Tejo ali espelhado à nossa frente num fim de dia, a aquecer-nos. Houve um bando de pássaros ao longe. Houve o sabor de um chá. Houve de súbito uma brisa inesperada. Houve a Lisboa das sete colinas. Houve as pedras da calçada da Baixa e o cheiro a castanhas assadas. Houve a iluminação de Natal no Rossio. Houve livros. Houve histórias. Houve rebuçados de doce de ovo caramelizados. Houve aromas. Houve música. Houve marionetas. Houve o sabor de saya yaku partilhado. Houve um beijo, dois, tantos que perdi a conta. Houve a suavidade e a ternura de um toque profundo. Houve a amplidão de repente feita olhar cúmplice. Houve hiperventilação porque houve o ar do mundo todo dentro de mim. Houve frases atiradas ao acaso e que ressoam por dentro. Houve a curva a que a mão dá o contorno. Houve qualquer coisa devagar que deixa a alma plena. Houve os abraços percorridos. Houve qualquer coisa de um silêncio bom. Houve cada momento especial dentro da noite.

domingo, novembro 16, 2008

"redenção"

"abundante o outono cai, preso aos olhos
como o próprio espanto

os dias que a memória íntimos traçou
com eles nos varremos

frias folhas secas varrem
a palavra, chocalham-na na boca devagar
e nós sentimo-la de leve
sentimo-la partir, ainda perto
ainda possível"

João Ricardo Lopes

Viagem a horas iluminantes






outra margem de mim

(...)
A vida rasga bocadinhos gastos do mundo
Vai descascando até chegar a nós
(...)

mafalda veiga - outra margem de mim

sexta-feira, novembro 14, 2008

Os nossos erros

Se há erros que não tolero nos outros porque são horríveis, muito menos aceito que eu própria os cometa.

Há erros indesculpáveis. E hoje aprendi uma grande lição!

Sentir um mar imenso entre mim e tudo o resto. Todas as dúvidas. O questionar de tudo: a noção de tempo e de presença a ser outra. O mundo foge-nos e desloca-se.

E é nestes momentos que sei o que é ter o privilégio de ter por perto pessoas melhores do que eu, mais conhecedoras, que me trazem conhecimentos mais acumulados e ensinamentos importantes; usufruir da maior experiência dos outros que são realmente muito bons.

Vai ser difíicil conseguir-me perdoar a mim própria. Só sei que já aprendi muito e coisas muito importantes e que me vou focar nas coisas positivas que podem surgir e mudar depois dos erros.

Leituras

«(...) Decidimos então escolher - mas os livros ensinaram-nos também a precariedade das escolhas e das decisões. Há uma época da vida em que descobrimos que aquilo a que chamámos escolhas fundamentais resultou de um conjunto de factores e circunstâncias que, afinal, não dominámos. Fomos arrastados na enxurrada, sobrevivendo a temporais diversos - e agora, no promontório a que damos o nome de maturidade (porque ganhámos nos livros o vício de dar nome a tudo, classificar, organizar, compreender, explicar) olhamos para as escolhas que esboçámos e abandonámos, e esforçamo-nos por recomeçar o desenho da nossa vida, numa página em branco. Mas aprendemos que o branco puro não existe - nem o negro, nem o amarelo, nem o azul ou o vermelho. Nenhuma cor é afinal absoluta como nós pensávamos, nesse tempo em que chamávamos razão ao instinto, paixão ao desejo, amor ao medo, originalidade à arrogância e ousadia à provocação. Ou vice-versa - tínhamos um feixe de certezas absolutas e uma incapacidade atávica de escutar as várias versões de uma mesma história. Talvez fosse apenas impaciência - mas nós chamavamos-lhe idealismo.»
Inês Pedrosa
«O texto necessita de um pensamento novo, não existe para reconfortar o leitor com consabidas manhas e linguagens. E é nessa medida que escrever se torna não apenas acolhimento, hospitalidade, encontro, relação, amizade, mas também como que cognitivo e ampliação dos limites da experiência.»
António Guerreiro

quinta-feira, novembro 13, 2008

Este Bairro







Viveres

Foi bom anteontem ter-vos cá em casa. Deixou-me muito contente. E estar convosco em privado foi mais importante do que ir ver o David (o músico).
Obrigado por cada coisa vossa, pela presença de cada um e de todos, nesta noite.

Ontem a hora de almoço também revelou uma surpresa gira. Tinha eu combinado um almoço com a Rita aqui no bairro e vejo o Gonçalo. Acabámos por almoçar os três numa esplanada, apesar do dia de Verão que cabia no dia de Outono, estava um frio desgraçado e um vento a varrer as coisas em cima da mesa (só espero que o Gonçalo, que almoçou cheio de frio, não tenha ficado constipado)! É que parecia que estávamos no Pólo Norte...

quarta-feira, novembro 12, 2008

Joan As Police Woman - Olga Cadaval, Sintra




Pela primeira vez estivemos no Olga Cadaval para este fascinante concerto acústico: profundo, tocante, íntimo e intimista, a suceder-se num tempo que correu devagar num palco iluminado de cortes geométricos.

terça-feira, novembro 11, 2008

Encontro de Blog’s – Borba 2008

No Domingo concretizou-se a ideia dos últimos tempos que tem a ver com o Encontro de Blogs. O cenário foi a Festa da Vinha e do Vinho em Borba.

A organização do Joaquim Trincheiras em colaboração com o João Fialho e a forma como a autarquia de Borba acarinhou o evento foram decisivas para o sucesso deste encontro.

Foi um enorme prazer poder ter estado presente neste Encontro pelo debate de ideias e espaços de diálogo, pela possibilidade de conhecermos os respectivos autores de blogs tão interessantes.

Fomos recebidos com toda a simpatia pelo Amigo Joaquim Trincheiras que nos convidou para um café de boas-vindas no Ponto Delta.


O espaço de debate propriamente dito decorreu no Pavilhão de Espectáculos e contou com a presença do Sr. Presidente da Câmara de Borba, Ângelo Sá.



Seguiu-se uma exposição cuidadosa pelo João Fialho do que é, como se cria, como se mantêm… um blog, bem como a partilha de experiências dos mais de 30 participantes.

A entrega de uma oferta, uma garrafa de vinho da Adega Cooperativa de Borba, pela comissão organizdora, a fechar o debate, foi ainda uma lembrança muito simbólica de todo o espírito de prazer e inspiração investidos neste Encontro.

" O vinho flui ao longo da história da humanidade como um rio patriarcal e profundo".
(J.L. Bergers)

O Encontro culminou num dos restaurantes onde o Zé Manel da Tasca 1 nos esperava. Para cima da mesa, primeiro chegou uma saborosa Sopa de Tomate e depois um Lombo Assado no forno, regado por um tinto da Adega Cooperativa de Borba.


Na mesa continuou um alegre e simpático convívio entre os participantes. E como vontade, um próximo encontro, a formação de uma Associação Nacional de Bloguers e mais uma mão cheia de ideias!!!

Um Obrigado a Todos!

domingo, novembro 09, 2008

Carmem e Bruno




"Casamento de sonho"

3ª Mostra de Cinema Brasileiro

OS DESAFINADOS de Walter Lima Jr.
Brasil, 2008

Nostalgia em tom maior
Quando um coração está cansado de sofrer e encontra outro coração também cansado de sofrer, o amor pode acontecer.
In "Os Desafinados"





«Um filme que narra a trajectória de um grupo de jovens músicos e compositores - que na década de 60 - partiu para Nova York e formavam o grupo - Os Desafinados - que fazem parte do movimento transgressor musical brasileiro, Bossa Nova. O filme assume significativa importância por relembrar os tempos do nascimento da Bossa Nova, os ideais da época, os sonhos de modernidade. A história política brasileira (décadas de 60 e 70) é pano de fundo deste filme, filmada na cidade do Rio de Janeiro e Nova York.»

Tinha curiosidade em ver este filme e o papel desempenhado pelo Rodrigo Santoro, o mais internacional dos actores brasileiros, e foi ao encontro das expectativas.
A 3ª Mostra de Cinema Brasileiro estava muitíssimo bem organizada e ainda houve espaço para um concerto Bossa Nova, depois deste interessante filme.




quinta-feira, novembro 06, 2008

All Mixed Up

quarta-feira, novembro 05, 2008

O primeiro dia dos 24 anos

Dos 23 anos há imagens.
Lembro-me de pessoas com quem me cruzei, de muitas conversas, da luminosidade de espaços, de situações suis generis, de pessoas que são histórias e de histórias que suscitam memórias (algumas delas, caricatas). E o resto, são imprecisões do tempo, de datas e de acontecimentos que não consigo situar, de palavras ditas que fogem.
Posso largar aquilo que ficou demasiadamente distante e prescindir de factos… Somente, agarrar o que é, porque é com o perto e o próximo que se vai preenchendo o viver dos dias com coisas pequeninas como um fio que nos liga directamente ao coração e puxa aquela gargalhada (parece que estou a ouvir a BB., sempre directa nas palavras, nos assobios, nas atitudes a dizer, como é que num dia destes te consegues rir?!). São estes os pormenores que quero, aqueles que dilatam as pupilas e nos enchem, por dentro, com aquele brilho de expansividade...

domingo, novembro 02, 2008

Princípio do Fim

No dizer da Catarina: "amassa, amassa, presson, presson, montanha!"
Eu e a Catarina a abrir o princípio do fim e a sacudir o passado por entre pão chinês; tau fu; bolos de arroz quentes com sementes de sésamo; chás de menta com especiarias, porque há o fim de histórias e o princípio de outras.
Puff o passado.
A vida, os dias e cada dia...

sábado, novembro 01, 2008

A vida de mil amores perdidos

A vida tal como ela é confronta-nos com a crueza no rosto e de muito perto. A vida tal como ela é obriga-nos a resistir e a esbracejar.
Ás vezes sentimos uma derrocada na alma. Ás vezes há pequenos pedaços da vida em que fomos, e de repente já não somos. Ás vezes, há um gostar muito, que pode ser amor, que não começa nem acaba onde o apanhamos.
A vida de mil amores perdidos acontece-me quando vejo tudo como baço, quando há uma verdade emocional que não sei nem definir nem descrever bem – são as emoções que ficam presas, entaladas, cada vez mais para dentro de si próprias. Filtro estes bocadinhos de histórias, aquelas que estão perto de um olhar vazio, de um gesto cansado, de uma respiração saturada, de um silêncio pesado.


As coisas vulgares que há na vida

Não deixam saudades

Só as lembranças que doem

Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história

da história da gente

e outras de quem nem o nome

lembramos ouvir

São emoções que dão vida

à saudade que trago

Aquelas que tive contigo

e acabei por perder

Há dias que marcam a alma

e a vida da gente

e aquele em que tu me deixaste

não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto

Gelado e cansado

As ruas que a cidade tinha

Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida

gritava à cidade

que o fogo do amor sob chuva

há instantes morrera

A chuva ouviu e calou

meu segredo à cidade

E eis que ela bate no vidro

Trazendo a saudade


(letra e música Jorge Fernando)


Os amores de reparação são a grande esperança do ser humano. E quando este processo de reparação se perde, surgirá ainda mais desorganização. Mas o ideal seria mesmo haver sempre o amor que pode reparar traumas.
Um amor de reparação é o único capaz de não nos deixar cair e desistir. Sei-o, hoje, mais do que nunca: é esta a matéria que escorre por entre as ruas que percorremos, pelas memórias de que a vida é feita, pelos rumos que se tomam, pelos caminhos desconhecidos que procuramos até encontrar, e a que no final nos faz dar as mãos e entrelaçar os dedos como nós apertados e securizantes.