Falar sobre a morte com as crianças...
A genialidade de uma série consegue ter este alcance:
“Às vezes, eu pinto. Pinto aquilo
que sinto. Conversar sobre assuntos de adultos e sobre a morte é confuso.
Então, vou falar-vos sobre uma pintura que fiz, e dizer-vos o que acho que ela
é porque pensei que isso nos faria sentir melhor. Mas têm de prometer que não
gozam comigo. Bom… Eu pintei isto porque achei que a peça era sobre a vida. A
vida é cheia de cor, e nós adicionamos a nossa própria cor à pintura. Embora a
pintura não seja grande, temos de pensar que ela se estende em todas as
direcções, até ao infinito, pois a vida também é assim. É incrível pensar que,
há cem anos, uma pessoa que eu nunca conheci neste país teve um filho, e o
filho dele teve um filho. E este teve-me a mim. Enquanto pintava, pensei que
aqui podia ser a parte dele da pintura, e que aqui podia ser a minha parte da
pintura. Depois, pensei: “ E se estivermos todos em toda a parte da pintura? E
se estivermos na pintura antes de nascermos? E se estivermos nela depois de
morrermos? E se as cores que adicionamos se vão sobrepondo umas às outras até
que nós deixamos de ser cores diferentes e somos apenas uma coisa? Um só
quadro. O meu pai já não está cá. Não está vivo, mas está connosco. Está comigo,
todos os dias. Tudo faz sentido, mesmo que vocês ainda não compreendam como. As
pessoas morrem, as pessoas que amamos. No futuro, amanhã ou talvez daqui a
muitos anos. Mas até é algo bonito, se pensarem bem nisso. Uma pessoa morre e
não podemos vê-la nem voltar a falar com ela, mas isso não quer dizer que ela
não continue na pintura. Creio que é esse o sentido de tudo isto. A morte não
existe. Não existo eu ou tu ou eles. Existimos apenas nós… e esta coisa desajeitada, selvagem, colorida
e mágica [a pintura ou as memórias] que não tem princípio nem fim. Creio que
somos nós."
This is Us
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home