domingo, outubro 21, 2007

Domingo domingo

«Aos domingos os pássaros são mais livres. Exibem-se em voltas no ar porque sabem que as pessoas reparam mais neles. Aos domingos, o barulho das ruas é diferente: as vozes, despreocupadas, assentam sobre o espaço vazio deixado pelas vozes ásperas dos dias de semana. Aquele era um domingo assim, era um domingo domingo».

José Luís Peixoto

Parapsicologia

Ontem no Até Jazz Café decorreu uma sessão que tinha como principal objectivo o esclarecimento do que é a Parapsicologia.
As questões ligadas àquilo que é externo aos nossos cinco sentidos fazem-me sempre crescer alguma curiosidade no espírito e, inerentes também a estas questões, uma energia mística que me suscita, também ela, curiosidade.
Já a noite ia avançada houve possibilidade de conversar com a Matilde acerca de alguns “fenómenos parapsicólogos”, tendo-a questionado acerca das “sensações de dejavu”. Segundo esta parapsicóloga as sensações dejavu são, na maioria das vezes, regressões que as pessoas fazem de coisas vividas num outro plano existencial no passado; sendo mais raras as vezes, em que de forma natural, ocorrem sensações de dejavu como projecções, estando aqui implícito a temporalidade – futuro.
Aconteceu ainda a leitura das Cartas de Tarot, carregada de simbolismos:
- Encruzilhada
Quem não tem nós para ir desatando ao longo de um caminho?
Todos nós temos coisas para desenlear.
- Carta da Morte: o início, o nascimento
Sim, ainda bem! Deixarmo-nos espantar com o mundo! A descoberta…
- Ideias que assimilámos e construímos no passado têm de lá ficar
Desconstruir ideias – associo isto a uma “descontaminação da memória”, importante, pois por vezes acontece a partir de determinadas vivências retirarmos algumas ilacções e fazermos determinadas colagens (para situações futuras) que são sempre bloqueantes. Agrada-me esta sensação de refresh your mind, uma nova abertura e um “outro olhar” para os fenómenos, para as coisas, para aquilo que nos rodeia e nos acontece…

quarta-feira, outubro 17, 2007

Crescer

“… como os campos do Alentejo: sempre os mesmos mas sempre diferentes.”
Crescer, permitirmo-nos sermos nós próprios, na essência da nossa personalidade, integrando em nós as experiências vividas e os afectos positivos e negativos intensos, e o desassossego das primeiras vezes.

Aprendi que uma relação mais do que uma aprendizagem é um processo de criatividade que se vivência com o Outro, na abertura a essa experiência, podendo cada um dos intervenientes ter timmings completamente diferentes.
Aprendi que mudar as nossas rotas, quando se têm expectativas numa direcção mais ou menos linear, implica sempre um processo de descoberta feito de imprevisibilidade e de incertezas.

Tropecei, por acaso, nos processos de recording/registos de interacção elaborados no contexto do meu contacto com a Psiquiatria e encontrei isto:
«Qualquer pessoa é uma ilha, no sentido muito concreto do termo;
a pessoa só pode construir uma ponte para comunicar com as outras ilhas
se primeiramente se dispôs a ser ela mesma e se lhe é permitido ser ela mesma»
Carl Rogers, in Tornar-se Pessoa

Ansiosa por reencontrar a vida a baloiçar nas árvores, identificar o cheiro do ar de uma manhã de sol, aquele que faz adivinhar um dia inesquecível.
Sedenta por descobrir as coisas importantes da vida… Sedenta por crescer na relação de aprendizagem pela experiência/vivência…

segunda-feira, outubro 15, 2007

Entrar em relação...

O Pedro de 26 anos de idade deu entrada no meu serviço com o diagnóstico de Síndrome de Cushing. Dotado de um espírito de ajuda e de solidariedade, e sobretudo de uma energia contagiante, boa disposição e um sentido de humor apurado vivência o seu 5º dia de internamento.
Em tom de brincadeira avisei-o que no dia seguinte me ia aturar das 8h até à meia-noite, ao que me respondeu ironicamente já estar cheio de medo. E no fim de contas, nem se deu esse caso. Fiquei com os outros treze doentes.
«- Hoje ainda não me foi visitar nem dar um Olá! Não encontro o Enfermeiro que está comigo, e quero pedir à Sr.ª D. Maria João se posso ir lá abaixo?
- Desculpe, não percebi…
- Posso ir lá abaixo, Sr.ª D. Maria João?
- Continuo a não perceber a parte do Sr.ª D…
- Enquanto me tratar por você, é assim!
- Pode Pedro, pode ir lá abaixo “arejar”… as ideias! Eu digo ao Enf.º R.»

Durante o internamento, o Pedro tem sido “massacrado” com sucessivas colheitas de sangue a horas exactas. Um dia, estava ele a tomar o seu duche pelo inicio da manhã e foi surpreendido pela minha presença.
Bati-lhe à porta e pedi licença para entrar, tendo tido de imediato a sua autorização.
Em modos um tanto ao quanto apressados, uma vez que seria suposto estar na sala de trabalho reunida com os meus colegas durante a passagem de turno, atirei-lhe as seguintes palavras, ao mesmo tempo que abria na totalidade a cortina do duche, de tabuleiro em riste com um garrote, seringas, agulhas, tubo de hemograma e tubo seco, enquanto a água do chuveiro caía. Sendo directiva, disse:
«- Pedro sei que isto lhe pode parecer um bocado estranho mas preciso de lhe colher sangue AGORA e preciso que estique o seu braço».
Estupefacto, a segurar o chuveiro ligado com uma mão e esticando o braço mais próximo, o Pedro não disse uma palavra e atendeu prontamente o meu pedido.
Da minha parte um pedido de desculpas pela invasão da privacidade, uma palavra de agradecimento, e o fechar das cortinas. Deixei o Pedro para trás a tomar tranquilamente (espero) o seu duche e regressei à sala de trabalho.
Reporta-se a este acontecimento com naturalidade e como algo engraçado, de quem tem uma história para contar:
«- Achava que se tinha esquecido de alguma coisa na casa de banho, mas nuca pensei que me fosse tirar sangue.»

Sábado, 20h30, tínhamos acabado de começar a jantar na nossa sala de trabalho (uma sala onde não se come, salvo raras excepções), quando o Pedro bateu à porta. A sala de trabalho, como o próprio nome indica é uma sala reservada ao trabalho, onde está afixado um quadro com o nome dos doentes e outras informações relevantes, onde se guardam processos clínicos, onde os enfermeiros efectuam os registos de enfermagem, onde médicos e enfermeiros partilham informações dos doentes, onde os enfermeiros se reúnem para a passagem de turno. Mas é também um sítio reservado aos enfermeiros para brincarem, conversarem, desabafarem, fumarem um cigarro (ás escondidas) e onde habitualmente, e sobretudo à noite, pela madrugada fora se vê televisão e se ouve música…
Quando o Pedro bateu à porta estava em cima da mesa um pacote de bolachas que ele vislumbrou de imediato, enquanto nos questionava acerca de algo. Sem vergonha, pediu:
« – Têm de me dar uma bolacha dessas que eu gosto muito!»
Em tom de brincadeira: « – Não sei! Pode comer chocolates?!
- Claro que posso! Porque é que não havia de poder?»
E lá comeu as bolachas que lhe apeteceu.
Passado cerca de 20 minutos bateu novamente à porta encostada.
« – Sim!»
Em cima da mesa, três diospiros.
« – Não quero diospiro, não aprecio muito.
– Eu adoro diospiros!
– Está-nos a dizer que quer um diospiro, é isso?
– Não, obrigado!
– Vá sente-se lá aí e coma!
– Não, não. Obrigado a sério!»
A medo,
«– Sabem eu não sei arranjar diospiros, a minha mãe é que me costuma sempre arranjar. A sério!»
Três pessoas incrédulas a olharem para ele, como quem desaprova totalmente o que acaba de ouvir.
« – Sente-se lá aí, que vamos ensiná-lo a arranjar um diospiro com uma colher de sobremesa.»
Apesar do Pedro até ter transpirado e não se ter saído nem muito bem nem muito mal, lá se deliciou com o diospiro…
E pelos vistos, ficou com mais uma história para contar.
E nós também…

A Enfermagem tem “destas pequenas coisas, mil e um pormenores que nem grandiosos nem espectaculares mas que dão sentido”, ainda que por vezes invisível, a muitas coisas.
Cada doente deixa, de um modo ou de outro, as suas características, as suas marcas próprias, únicas, verdadeiramente suas e que nós “enquanto enfermeiros - privilegiados da relação” assimilamos, ao termos acesso, na prática dos cuidados, ao que de mais íntimo há na vida das pessoas.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Urologia

Amanhã vou a um curso médico de actualização em anatomia cirúrgica, cujo preço de inscrição é de 350 euros. A vantagem é a do Organizador da mesma ser o Director Clínico do meu serviço, e portanto tive direito a um convite.
Uma formação que se realizará desde as 9h ás 18h30 no Hotel Villa Rica, intitulada "Prostatectomia radical aberta e laparoscópica - preservação vasculo nervosa e continência urinária".
O que tem de inovador? A transmissão de cirurgias ao vivo. Neste âmbito já assisti a algumas mas estando no bloco operatório do hospital onde trabalho.
Hoje, como estive a fazer turno da tarde contactei com os doentes que vão ser operados amanhã, tendo efectuado alguns ensinos pré-operatórios e realizado outro tipo de funções interdependentes. E amanhã vou estar confortavelmente num auditório de um hotel a assistir em directo ás intervenções cirúrgicas programadas para os mesmos... Acho que vai ser muito interessante e boa sorte para todos é o que desejo!

quinta-feira, outubro 11, 2007

Cinema

"Pintar ou Fazer Amor" – o primeiro filme que vi sobre a temática do swing…

“Sarayaku Kaparik, um grito pela dignidade” integrado na mostra de 11 filmes do Projecto Tierra de Todos, até dia 12 de Outubro no Cinema King.
Um filme que reflecte situações contemporâneas a actuais como os problemas que afectam o mundo e o papel de responsabilidade que cada um deve assumir.
Um filme que nos fala dos Sarayaku, um Povo Índigena da Amazónia e da sua cultura.
O que mais me impressionou neste filme foram: o sentimento unificado de etnia e a capacidade de organização destes pequenos grupos humanos: pessoas que vivem em zonas do mundo que não sofreram processos de colonização nem de modernização; pessoas que vivem num ritmo histórico diferente e que lutam pela defesa dos seus direitos. Esta comunidade revela uma enorme capacidade de estabelecer uma relação entre o global (o Planeta) e o local (os seus modos de vida), confere primazia à educação dos filhos, existindo uma estreita ligação entre a escola e a comunidade, que se orgulha disto; p.ex. as crianças levam para a escola os bens que podem e que são essenciais para a sua alimentação enquanto estão nas aulas: lenha, cebola, batata, entre outros, os quais são entregues a uma enfermeira que tem como missão cozinhar aquilo que as crianças trazem de casa.
Nesta comunidade, as pessoas são agentes de resolução dos seus próprios problemas, e por isso, agentes de mudança. As mulheres são as principais a assumirem a protecção daquele local, reconhecendo que o território onde habitam lhes pertence, uma vez que é nele que moram as histórias passadas vividas pelos seus ancestrais; a ideia de desenvolvimento (sustentado) transmitida de geração em geração; a existência de locais sagrados, os quais devem ser protegidos; o conhecimento da natureza associado ás medicinas tradicionais, a presença vincada de elementos culturais/rituais que os caracteriza e os distingue.
Através do domínio dos meios globais de comunicação têm levado a cabo uma luta contra as plataformas transnacionais, nomeadamente a instalação de companhias petrolíferas naquele Estado, evitando assim a expropriação da sua própria Terra, preservando deste modo a sua cultura e identidade.

“O que significa para vocês a liberadade?
- Não atraiçoar a confiança que os outros depositam em mim
- Manter a identidade
- Reclamar direitos e justiça
- Seguir os princípios nos quais acredito
- Viver tranquilamente e sem nenhum problema”

segunda-feira, outubro 08, 2007

Música


Hoje a música entoou pelas paredes lá de casa, desde a sala ao quarto, e ainda devo ter dado música a alguns vizinhos! Num dia livre de afazeres deixei-me trespassar por sentimentos esteticamente belos;)
As primeiras palavras de música do CD "Dreams in Colour" e imagens do DVD "Live in Loop" a instalarem-se em mim e a quererem deixar-se ficar, a aquecerem-me por dentro como lume e a preencherem-me de emoções contagiantes...

Lições da Vida

"Quando um caminho chegar a um termo, muda - depois de mudares, continuas em frente"

(In Fórmula de Deus)

sexta-feira, outubro 05, 2007

Pré-compra

Pela primeira vez, ontem, fiz uma pré-compra na fnac: o CD "Dreams in colour" e o DVD "Live in Loop", de David Fonseca. Foi estranho adquirir algo, pagando no acto da pré-compra, ou seja, momentaneamente, e não trazer qualquer coisa material. A vontade em adquirir estes dois objectos motivou-me a desejá-los previamente.. Até lá terei de aguardar. Dia 8 de outubro é então a data prevista para os ter em minha posse. Fica a expectativa (que é grande)...

segunda-feira, outubro 01, 2007

Happy ever after

Desconstruir

«É no falhanço que a maior parte das coisas se passa. Quando se erra, as questões são maiores, vêem-se coisas outrora adormecidas. É no erro que se descobre a fragilidade das coisas e se põe na balança o que é mais importante.


É no erro que aprendo a rir de mim próprio. E é muitas vezes no erro, que coisas mágicas acontecem!»

(David Fonseca, in webisódio 5)

O que é que mudou?

De ontem para hoje, o que é que mudou?
Estamos diferentes!
Foram desejos não coincidentes, no tempo? Foram vontades contrariadas, capazes de nos impelir para trajectórias opostas? Foi uma noite de palavras sem ternura, palavras mais agressivas, palavras que magoaram e nos rasgaram por dentro? Foi a ausência de gestos? Foi a ausência de compreeensão? Foi a ausência daquele olhar, quando nos sentimos à deriva e por isso, esperamos e desejamos mais do que tudo um olhar cúmplice, que nos reconforte a alma, que nos sopre encantamento, que nos inunde de sensações mágicas e nos embale a alma e nos rebente no coração?
De ontem para hoje, o que é que mudou?
Somos diferentes!
Há verdades que pelos vistos não o são, manifestadas pelo verbal e pelo não verbal, que se antagonizam...
Aos diálogos falta-lhes coerência e os sentimentos mutilam-se, aos poucos, e cada vez mais...
Sinto que a minha pele não respira: há coisas por dizer, tudos e nadas importantes ocultos...
De hoje para ontem, o que é que foi especial?
(29/09/07 - 8.00)