terça-feira, setembro 30, 2008

Esta Noite

Combinações. Sentados em roda a suscitar a partilha. Ambientes únicos.Sem inibições.
A vida quotidiana integrada e os sonhos que são espelhos estilhaçados.
Harmonia. Os espaços sobre os quais nos demoramos.
Sentir a exploração do lado mais negro de cada um, quando os amigos, ao nosso redor, o nos comunicam! Mas ainda assim, as expressões do rosto acompanhadas de gestos das mãos e de posturas do corpo a interpretar "poemas".
Os objectos aos quais nos agarramos.Falando da vida, das emoções, dos pensamentos, das cenas rídiculas e problemas.
Fascinantes misturas. As mãos que escavam, furam, transportam e despejam talvez por extensão poética semelhante ás mãos que levam, que elevam ou que protegem.
Espaços em terreno lúdico de expressão.
A roda giratória que integra o movimento: movimento amplo, carrossel de músicas.
Uma parede em que nos podemos apoiar.
Uma cadeira onde nos podemos instalar, única e efémera... como a vida!

domingo, setembro 28, 2008

Encontro entre Bloggers na Cadeia Quinhentista em Estremoz




Um almoço com o sabor da gastronomia alentejana muito boa. Um almoço de gente que mantém ligações prazeirosas a Estremoz. Um almoço de debate de ideias, conversas que puxam conversas, e novos projectos...
Foi bom estar convosco e entre vós!

sexta-feira, setembro 26, 2008

Por entre as salas de um serviço de um Hospital não somos enfermeiros. Somos amigos: tristes com umas piadas que se soltam de vez em quando, que ainda nos fazem rir com gargalhadas.
Não sabemos o que dizer. Não sabemos o que saberá melhor de ser ouvido. Esforçamo-nos por escutar. Sentimo-nos frágeis. Queremos apenas estar e estar mais um pouco...
Tudo é inacreditável e angustiante.
Incategorizável.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Lições da vida

O amor é uma treta!
Que importa?!
O amor deu à sola, lá se foi o sonho à viola…
Que importa?!
A vida é uma desilusão.
Que importa?!

Esquece as tristezas. Começa a sorrir.
Não queiras saber porquê…

quarta-feira, setembro 24, 2008

Mal Absoluto

«Por princípio é necessário dizer que a mentira não se justifica e que mentir é indesculpável seja a que título for. Recordo-me de uma parte particularmente impressionante do filme “O Exorcista” em que o Padre mais velho está a aconselhar um sacerdote mais novo sobre as tácticas do demónio e na altura diz-lhe. “O pior de tudo é que ele (o demónio) nunca diz a verdade. Mente sempre!” Eu creio que esta definição do absolutamente mau, do infinitamente perverso está correcta. O mal absoluto, provavelmente, é a mentira.
Creio que a mentira é uma daquelas transgressões fundamentais que penaliza sempre muito mais quem a comete do que o objecto do embuste. Mentir, segundo o excelente dicionário da Porto Editora é… “afirmar como verdadeiro o que se sabe ser falso ou negar o que se sabe ser verdade”. (…) Mesmo nesta fase em que tudo parece ser tolerado, creio que não perdoaria nenhum acto da mentira.»

Mário Crespo (jornalista)

terça-feira, setembro 23, 2008

Elogio ao Silêncio


PENÚLTIMA VIVÊNCIA
«quero só
o silêncio da vela
o afogar-me
na temperatura
da cera.
quero só
o silêncio de volta:
infinituar-me
em poros que hajam
num chão de ser cera.»
Ondjaki

segunda-feira, setembro 22, 2008

Outono


Hoje, ás 16:44 começou o Outono em Portugal continental, o qual se irá prolongar até ao próximo solstício, que ocorre no dia 21 de Dezembro às 17:04, em Portugal continental.
A chegada do Outono antecede a alteração da hora, que acontece no próximo dia 26 de Outubro, dando início à chamada Hora de Inverno.
O equinócio do Outono no Hemisfério Norte marca o «instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, cruza o equador celeste», de acordo com a definição do Observatório Astronómico de Lisboa. Equinócio é uma palavra de origem latina que significa «noite igual ao dia», dado que, nestas datas, dia e noite têm igual duração.


Gosto muito do Outono!
O Outono são arrumações de Outono: arrumar papéis dispersos, deitar fora os que não me parece terem já qualquer interesse, e arquivar os restantes.
O Outono é cor de mel. O Outono são os dias dourados com a luz do entardecer. O Outono são os dias mais brilhantes nos dias de chuva. O Outono são os cabelos ao vento. O Outono é poesia com marcas que mostram um caminho que se faz quando se foi e depois se volta para trás. Marcas profundas e indeléveis de gestos puros, escritos num espaço vazio e cheio com cuidado e intenção.
Gosto de sentir a chuva na pele e também gosto dos dias cinzentos, de nuvens pesadas cor de chumbo. Gosto do rumor da água que bate na água, das ondas que fazem barulho na praia que estava deserta.
O Outono são dias em que o tempo tem mais tempo e podem ser vividos em silêncio. Comungados.



O Outono são memórias e música e lugares.

O Outono são as tardes na biblioteca deste videoclip, a minha preferida em Lisboa.

http://www.youtube.com/watch?v=9MNlhV4wur8

O Outono são relações díspares. O Outono é uma pequena luz cintilante numa noite.

domingo, setembro 21, 2008

Verão 2008













"- Eu acho que..."

«Na língua portuguesa, o verbo mais bonito não é o verbo amar, que me parece petulante e, tragicamente banalizado.
O mais bonito é o verbo achar, porque exprime uma contradição em termos. À letra, achar é encontrar mas, quando dizemos «eu acho que», torna-se o oposto: opinar, presumir, aventar uma hipótese porque não se encontra a realidade. Uma pessoa diz «acho que é por aqui» porque não tem a certeza, caso contrário diria «é por ali».
Pois muito bem, é exactamente o que eu acho, ou encontro, ou desencontro ou desacho.»

Rui Zink

sábado, setembro 20, 2008

A.

«A beleza está nos olhos de quem a vê, mas todas as pessoas são belas, é verdade. Só temos de ler as suas histórias com atenção, e se conseguir recontar essas histórias (…), então fico feliz
Anastasia Tikhonova

A noite é propícia a histórias que se contam sobre pessoas de quem se gosta muito e que pertencem ao álbum de uma vida. Durante toda uma madrugada imaginei o A. à medida que ia conhecendo as suas histórias: o acidente de carro e a hospitalização dele, das suas duas irmãs e dos seus pais aos 3 anos; o regresso a casa com a Z. As gargalhadas espontâneas do seu pai. A sensatez da sua mãe. A sua avó. Aos quatro anos, sentado no chão, a tocar viola sozinho. Aos 19 anos quando adoeceu, os pais na Alemanha, e com ele, a sua segunda mãe. Já jovem adulto, os oito anos de estudos em Nova Iorque. As aulas de música que são prazer e profissão. A rotina das viagens a Paris uma vez por mês. As entrevistas que gosta de dar no terraço da casa dos pais. A toalha de linho oferecida no dia do seu casamento. O amor para uma vida. O olhar sem aquele brilho de felicidade plena quando a vida é atropelada no que de maior ela tem: o amor. Os concertos. As suas brincadeiras com a M. As saudades dos crepes vegetarianos da Z. As noites no H.C. As relações privilegiadas na sua vida. As fotografias partilhadas do último safari. A sua maneira de ser. A pessoa que é.

Um dia gostava de saber dizer a ternura que deixa impregnada.
Uma noite gostava de legendar histórias, ao acaso, com o A. a tocar guitarra.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Fotografando-Nos

Vou adormecer
no teu olhar,
com o meu contemplativo
sobre o teu,
com os teus beijos lânguidos,
com a delicadeza do teu toque,
com a suavidade do teu abraço.
É como se ainda sentisse
o calor dos nossos corpos
despidos,
juntos.
Debruçado à janela,
ou sentado nas escadas
sorris,
na despedida
dos desinstantes.
Uma imagem:
bonita.

"Looking at us"


Tu e eu.

Eu e tu.

Nós.

A noite é de revelações, de busca de identidade, de olhares, que foram paradoxalmente, muito mais próximos, mais iguais e analíticos. Quase sem palavras, vejo-nos em deslocação pelo tempo, a saltar para a frente e para trás, nesta noite de reencontro e ENCONTRO, pelos desalentos e relentos da alma que excedem o acontecer da vida…

Ali, a dimensão de todas as coisas e de cada uma. Ao escutar-te, sinto-me transportada de uma dimensão para outra num fluxo de surpresa, jogo, em que tudo é o que parece e ao mesmo tempo deixa de sê-lo.
Digo-te: olha para as coisas de frente, vê literalmente e leva isso até ao fim.
Porque nos entregamos, talvez consigamos ver a força e a fragilidade, o jogo de contrários, maior do que os enredos da vida.
Nem sempre a fronteira o é, uma vez que não corta o fluxo das histórias anteriores. Sabemos que a história se inscreve em outras, e num tempo que as multiplica e exalta.
Tudo se funde e reintegra.

Na tarde, quando conversávamos acho que mais do que mudar, importa ver o mecanismo da mudança. E isso significa que não mudámos completamente.
Agora o que faz falta não são duas partes, é uma máquina trituradora que põe tudo à mostra e mostra o reverso de tudo.

Vejo-Te partir e desejo-Te bem lá do fundo, com toda a ternura, num grito em uníssono de comoção e identificação: “O Sabor do Amor”…

quarta-feira, setembro 17, 2008

Viagem – Onde será o fim? Conforme as pessoas.

Dizia-me o Helder, que me sabe ler, consoante os meus “vómitos” de escrita. Gostei da partilha desta análise perspicaz. No poema INSCRIÇÃO, Ondjaki tece consideração similar: «o inchaço do coração/facilita o despalavrear (…) a despalavreação/pode acrescer de uma vida.»
Como diria a Maria do Rosário, “fui trôpega” em andanças das emoções e das razões.

Entre a partida e a chegada há um silêncio submerso pelo horizonte onde o olhar se estende e consome.
Queria acreditar nos momentos de apaziguamento; na medida de todas as coisas boas que iam acontecendo, num crescer irresistível da ternura. E não dava tanta atenção a outras coisas, ás sombras do rosto, que haviam de ter motivos. Mas aquilo que em nós é mais forte pede sempre prioridades…
Entre a partida e a chegada há, também, um rumor de trânsito que se perde por entre a cidade.
Há uma fragilidade que cada um de nós conhece. Como há coisas que só podem ser ditas da possível forma de dizer num determinado momento. O que realmente queria dizer tinha a ver com complicados motivos de princípio e de fim.
Quando não se têm certezas deixa-se que o tempo traga as respostas porque os destinos trilham-se no tempo.
Tentei alcançar-Te.
Mas o fim foi um ontem, no aqui e no agora.
Se nos apaixonamos mais facilmente parece-me que esse amor se torna mais fugaz e efémero. O amor, quando verdadeiro, é sempre mais intenso e profundo.
Acredito na possibilidade de muitas coisas. Sobretudo nesta: quando sabemos que encontrámos a pessoa certa, ninguém mais suscita qualquer tipo de interesse.
Num verdadeiro e superior sentido, se tivesse de eleger um sentimento seria a confiança. Numa relação de maior proximidade com Alguém a anulação do eu é sempre uma das causas de desinteresse.
Obrigo-me a pensar num princípio fundamental relativamente a relações: ninguém é obrigado a estar com o Outro, quantas vezes me lembrei disto ou me puni por isto?! Em relações de amizade, ou mais íntimas, as pessoas só devem estar próximas de um único modo, por livre e espontânea vontade.
Ao longo da viagem, uma certeza: julgar atitudes humanas, ainda por cima quando somos parte do problema não garante a imparcialidade necessária. Mas em termos gerais, acho que o perdão, mesmo quando existe, nunca dá grande resultado. Dificilmente se engolem determinadas atitudes e acções. O ser-se atraiçoado na amizade, na cumplicidade, e nos momentos que se passam juntos é não respeitar a dignidade da pessoa e pô-la numa situação de “achincalhice”, por isso, há muitas nuances que não podem ser definidas, e muito menos por palavras.
Acredito na minha capacidade de perdoar, no entanto, sinto que a desilusão e o descrédito levam-me ao desinteresse, ao desligamento e consequente separação definitiva. Puramente sei que é isto que sinto.
No filme Blow Up, “Histórias de um Fotógrafo” de Michelangelo Antonioni, uma frase introspectiva e desconstrutivista anunciava: “os desastres ajudam-nos a resolver coisas.” Ou seja, há emoções que se desdobram: é como se só se compreendesse o melhor à custa daquilo que magoa.

Ontem, hoje e amanhã: o fim!
Ontem, hoje e amanhã: o fim… porque a vida não passa de um entretanto com ausências definitivas.