
Dizia-me o Helder, que me sabe ler, consoante os meus “vómitos” de escrita. Gostei da partilha desta análise perspicaz. No poema INSCRIÇÃO,
Ondjaki tece consideração similar: «o inchaço do coração/facilita o despalavrear (…) a despalavreação/pode acrescer de uma vida.»
Como diria a Maria do Rosário, “fui trôpega” em andanças das emoções e das razões.
Entre a partida e a chegada há um silêncio submerso pelo horizonte onde o olhar se estende e consome.
Queria acreditar nos momentos de apaziguamento; na medida de todas as coisas boas que iam acontecendo, num crescer irresistível da ternura. E não dava tanta atenção a outras coisas, ás sombras do rosto, que haviam de ter motivos. Mas aquilo que em nós é mais forte pede sempre prioridades…
Entre a partida e a chegada há, também, um rumor de trânsito que se perde por entre a cidade.
Há uma fragilidade que cada um de nós conhece. Como há coisas que só podem ser ditas da possível forma de dizer num determinado momento. O que realmente queria dizer tinha a ver com complicados motivos de princípio e de fim.
Quando não se têm certezas deixa-se que o tempo traga as respostas porque os destinos trilham-se no tempo.
Tentei alcançar-Te.
Mas o fim foi um ontem, no aqui e no agora.
Se nos apaixonamos mais facilmente parece-me que esse amor se torna mais fugaz e efémero. O amor, quando verdadeiro, é sempre mais intenso e profundo.
Acredito na possibilidade de muitas coisas. Sobretudo nesta: quando sabemos que encontrámos a pessoa certa, ninguém mais suscita qualquer tipo de interesse.
Num verdadeiro e superior sentido, se tivesse de eleger um sentimento seria a confiança. Numa relação de maior proximidade com Alguém a anulação do eu é sempre uma das causas de desinteresse.
Obrigo-me a pensar num princípio fundamental relativamente a relações: ninguém é obrigado a estar com o Outro, quantas vezes me lembrei disto ou me puni por isto?! Em relações de amizade, ou mais íntimas, as pessoas só devem estar próximas de um único modo, por livre e espontânea vontade.
Ao longo da viagem, uma certeza: julgar atitudes humanas, ainda por cima quando somos parte do problema não garante a imparcialidade necessária. Mas em termos gerais, acho que o perdão, mesmo quando existe, nunca dá grande resultado. Dificilmente se engolem determinadas atitudes e acções. O ser-se atraiçoado na amizade, na cumplicidade, e nos momentos que se passam juntos é não respeitar a dignidade da pessoa e pô-la numa situação de “achincalhice”, por isso, há muitas nuances que não podem ser definidas, e muito menos por palavras.
Acredito na minha capacidade de perdoar, no entanto, sinto que a desilusão e o descrédito levam-me ao desinteresse, ao desligamento e consequente separação definitiva. Puramente sei que é isto que sinto.
No filme Blow Up, “Histórias de um Fotógrafo” de Michelangelo Antonioni, uma frase introspectiva e desconstrutivista anunciava: “os desastres ajudam-nos a resolver coisas.” Ou seja, há emoções que se desdobram: é como se só se compreendesse o melhor à custa daquilo que magoa.
Ontem, hoje e amanhã: o fim!
Ontem, hoje e amanhã: o fim… porque a vida não passa de um entretanto com ausências definitivas.