segunda-feira, fevereiro 29, 2016

A propósito das declarações da bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, no programa Renascença " Em Nome da Lei”:

Será que o nosso SNS pode ajudar a concretizar e proporcionar finais felizes?!
Sinto que nos hospitais públicos nem sempre as melhores práticas imperam face à pressão para altas clínicas cada vez mais precoces perante uma população com um aumento da expetativa de vida e carga de doença... Sinto que não há uma rigorosa identificação precoce das necessidades dos doentes e famílias, nem uma avaliação rigorosa das mesmas, o que impede todos os dias o tratamento de todos os problemas físicos, psicossociais e espirituais dos doentes / famílias, não conseguindo o SNS conferir uma melhor qualidade de vida aos seus clientes bem como o alívio e controlo de sintomas. A consciência do SNS face aos cuidados paliativos só lhes confere algum sentido na doença terminal, e não no momento do diagnóstico como seria expectável... daí a obstinação terapêutica com que somos confrontados muitas vezes, e em muitos casos!
Nestas condições e perante as circunstâncias atuais, acredito que para muitas pessoas a eutanásia tenha espaço para acontecer e seja uma alternativa mais barata (e também menos trabalhosa), o que verdadeiramente me entristece enquanto enfermeira.

sábado, fevereiro 06, 2016

Questiono-me, muitas vezes, como será viver uma doença grave na primeira pessoa...

- o futuro de um prenúncio fantasmagórico torna-se real; um facto como a distância da Terra ao Sol, uma verdade que se instala na vida;
- a vida fragmenta-se e acontece em etapas: biópsias, exames, quimioterapia / radioterapia, tratamentos difíceis de suportar e a certeza de que uma vida mais longa é mais remota;
- a agenda pode, talvez, não ser concretizável num par de semanas, em meses, ou talvez para sempre;
- respira-se fundo, e no lugar de todos os dias, sente-se algo como o cheiro a eucalipto, que não se tinha notado antes;
- deseja-se dar o melhor, e atingir a perfeição, dada a premissa latente - pode não ser possível nunca mais, sobretudo quando gostamos de finais felizes;
- a música de sons suaves é capaz de encher a alma;
- deixar para trás o que possa ser mais útil a terceiros;
- as lágrimas surgem no momento mais inesperado;

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