O que nos faz pensar?
Numa noite recente, um doente, de meia idade, com o diagnóstico de depressão seguido num Hospital Psiquiátrico.
A revelação de muitas coisas a emergir no contacto com ele.
A comunicação por cifras de natureza simbólica que requeria decifração.
O esquecimento da subjectividade.
Sofrimento.
Cisão.
Naufrágio empático.
A reflexão à posteriori de atitudes.
A tentativa de uma aproximação, de entrar em relação.
A conferência de Victor Amorim Rodrigues, "Psiquiatria, Existência e Espiritualidade", a que tive a sorte de assistir, por este tempo, a contaminar valores, prioridades, aquilo que o nosso olhar é capaz de ver.
A sua analogia fenomenal:
«Tem de existir sempre o olhar e um campo visual.
Sem campo visual não haveria olhar.
As coisas só podem ser vistas dentro de um campo visual. Mas para que isso possa acontecer é necessário o olhar».
A certeza de uma dimensão noética do existir a ser caminho e esperança: a visão mais humana e atenta à realidade humana a partir do Outro; a pergunta De que maneira é que o sofrimento do Outro é uma resposta solicitada ao seu mundo?; a dimensão do mundo pessoal do Outro e a forma como Ele nos pode introduzir na sua abertura ao mundo, de diferentes dimensões: física, pessoal/psíquica/espiritual/privada, social; a relação terapêutica a abrir possibilidades de se construírem pontes na dimensão privada onde surgem as questões pelo sentido; a certeza de que tudo se joga na relação – a descoberta do sentido a fazer-se num campo intersubjectivo que tem a ver com o que se joga na relação e na reflexão que se faz por parte das pessoas envolvidas; o despir de ideias próprias a transmitir, colocando de parte todos os pré(conceitos) de modo a que os fenómenos possam emergir de uma maneira crua como conteúdos significativos…