quarta-feira, janeiro 23, 2008

Escrever

Hoje o João, de saída de vela, comentava que os meus posts no blog surgiam em catadupa :)
Não sei bem porquê.
Sei que não comecei a "escrever" por arrogância de achar que tinha algo que poderia interessar aos outros, mas sim para meu próprio proveito, quase como uma forma de me distanciar, de ter um controlo sobre aquilo que me ia acontecendo como anotamento de algumas experiências, talvez porque isso me ajudasse a vê-las com uma certa objectividade e a testemunhá-la...



Trecho de "A Pasta do meu pai", de Orhan Pamuk

«O escritor é alguém que passa os anos, pacientemente, a tentar descobrir um segundo ser dentro dele, e o mundo que o faz ser como é. Quando falo de escrever, a primeira imagem que me vem à cabeça não é um romance, poema, ou tradição literária; é a da pessoa que se fecha num quarto, senta-se numa mesa e, sozinha, vira-se para dentro. Entre as suas sombras constrói um mundo novo com palavras. Este homem - ou mulher - pode usar uma máquina de escrever, ou beneficiar da utilização do computador, ou escrever com caneta e papel, como eu. Enquanto escreve, pode beber chá ou café, ou fumar cigarros. De vez em quando, pode levantar-se da mesa para ver pela janela as crianças a brincar na rua ou, se tiver essa sorte, pode ver árvores e uma paisagem, ou mesmo uma parede cega. Pode escrever poemas, ou peças de teatro, ou romances, como eu. Mas todas essas diferenças aparecem só depois de completada a tarefa crucial - depois de se sentar à mesa e pacientemente virar-se para dentro. Escrever é transformar aquele olhar interior em palavras, estudar o mundo para onde passamos quando nos recolhemos dentro de nós, e é fazê-lo com paciência, obstinação e alegria.»

4 Comments:

At 23/1/08 02:16, Blogger João Morais Costa said...

Nao o disse com tom depreciativo, nem poderia, o teu sorriso nao me o deixaria =)
Como redenção das minhas palavras deixo-te aqui um blog que está proximo da tua visão da vida...

reasontomourn.blogspot.com

 
At 25/1/08 21:48, Blogger mjoão said...

Bem sei que não foi depreciativo e achei bastante curioso! Redenção: não, nada disso!

Gostei do blog: obrigado.
E por partilhas, o livro de viagens que te tinha falado e que poderá (?) ser interessante tem como título a Baía dos Tigres, de Pedro Rosa Mendes (edições Dom Quixote) :)

 
At 26/1/08 00:42, Blogger Maria Lua said...

Para partilhar contigo:
«A vida humana — ou melhor, a vida em geral — é poesia. Sem nos darmos conta vivemo-la, dia a dia, pedaço a pedaço. Mas, na sua inviolável totalidade, é ela que nos vive, que nos inventa. Longe, muito longe da velha divisa: «fazer da vida uma obra de arte» — somos nós a nossa obra de arte»

Lou Andreas-Salomé, in Um olhar para trás

Beijinhos e bom final de semana.

 
At 27/1/08 21:35, Blogger mjoão said...

Obrigado pela partilha de uma imagem tão bela :)

Acho que a vida, enquanto obra de arte, pode acontecer quando é vivida com criatividade integrada na nossa individualidade e com um certo estilo estético na relação com os outros e com aquilo que nos rodeia...

 

Enviar um comentário

<< Home